A articulação acromioclavicular é a articulação mais exposta do ombro, fica na parte lateral da clavícula e serve de sustentação entre o membro superior e o tórax. Possui ligamentos acromioclaviculares que unem a clavícula ao acrômio (que faz parte da escápula) e dois ligamentos coracoclaviculares que unem a clavícula ao processo coracoide (proeminência óssea oriunda da escápula).
1 - Como esta articulação pode deslocar e quais ligamentos podem romper?
Muito comum na prática esportiva, sobretudo em futebol, rugby, jiu-jitsu e judô. Geralmente a luxação ocorre devido a trauma direto (como cair e bater ombro direto no chão) ou indireto (cair apoiando mão no chão com cotovelo esticado). Traumas mais leves provocam lesão apenas nos ligamentos acromioclaviculares, de bom prognóstico e normalmente sem deformidade visual. Lesões mais fortes podem levar a ruptura dos ligamentos entre o coracoide e a clavícula (ligamentos coracoclaviculares: conoide e trapezoide) e provocar uma deformidade visível.
2 - Como é feito o diagnóstico?
Após o trauma, percebe-se dor na parte superior do ombro, na proeminência óssea lateral da clavícula (articulação acromioclavicular) e algumas vezes deformidade, com saliência da clavícula.
O diagnóstico é feito através de exame físico e radiografias com incidências especiais, com o paciente em pé e os braços relaxados ao longo do corpo. Interessante é sempre fazer radiografia bilateral para termos um parâmetro do que está normal. De acordo com a deformidade no raio-X, podemos classificar a lesão e indicar o tipo de tratamento.
3 - Quais os tipos de luxação acromioclavicular? Essa classificação define o tratamento?
Nas lesões tipo 1 e 2 há apenas lesão dos ligamentos acromioclaviculares e ocorre mínima ou nenhuma deformidade. Nesses casos o tratamento deve ser conservador, com tipoia, aplicação de gelo, analgésicos e antiinflamatório enquanto o paciente tiver dor. Quando os ligamentos acromioclaviculares e coracoclaviculares são rompidos, ocorre a luxação propriamente dita, ou seja, a clavícula e o acrômio perdem o contato e surgem as deformidades. Nas lesões tipo 3, a deformidade não é tão importante porque a fáscia (membrana) entre o trapézio e o deltoide não foi violada e a maioria dos casos não necessita de cirurgia.
Nos casos mais graves (tipos 4, 5 e 6) está indicado o tratamento cirúrgico.
4 - Como é a cirurgia para luxação acromioclavicular?
Quando há ruptura dos ligamentos coracoclaviculares, em lesões com até 3 semanas (agudas) é possível realizar amarrias entre a clavícula e o osso coracoide por cirurgia aberta (âncoras e fios ou apenas fios de alta resistência) ou artroscópica (com fios de alta resistência e botões), com o intuito de que os ligamentos rompidos cicatrizem após refeito o alinhamento (redução).
Mas em lesões crônicas, ou com mais de 3-4 semanas, é necessário utilizar tecido biológico do próprio paciente (enxerto) para refazer os ligamentos coracoclaviculares rompidos, pois os ligamentos originais não mais cicatrizam. Em pacientes com menor demanda, a simples transferência do ligamento coracoacromial (cirurgia de Weaver-Dunn) associada a amarrias entre a clavícula e o coracoide pode ser suficiente. Em pacientes com maior demanda é necessário a utilização de enxertos dos tendões flexores do joelho (os mesmos utilizados para reconstrução de ligamento cruzado de joelho) entre a clavícula e o processo coracoide.
5 - Como é o pós-operatório?
O paciente deve utilizar imobilização com tipoia de ombro por 6-8 semanas (proteção ao reparo ligamentar, para cicatrização), período no qual são realizados apenas alguns alongamentos para evitar rigidez de ombro. Após esse período, iniciamos fisioterapia motora objetivando ganhar amplitude de movimento. Atingida amplitude de movimento quase completa (entre 8-10 semanas), reforço muscular é iniciado.